Livro: Uma nova história do tempo.
Autores: Stephen Hawking e Leonard Mlodinow.
Resenha por: Gerson Anderson de Carvalho Lopes
Anos após a publicação do fenômeno “Uma breve história do tempo”, em 1988, que se tornou best seller - marco notável em se tratando de um livro que debateu algumas das questões mais difíceis da física moderna - os fãs de Stephen Hawking pediram uma nova versão do exemplar contendo os últimos avanços da cosmologia e novos resultados de observações astronômicas.
Os anseios do público foram atendidos em 2005 quando Hawking e o seu colaborador Mlodinow lançaram “Uma nova história do tempo”, obra que expandiu e aperfeiçoou o conteúdo do livro, porém mantendo o tamanho e o estilo leve e acessível. Não se trata de uma continuação, mas de uma reformulação, de modo que não é necessário ler o primeiro para compreender este - embora o de 1988 seja considerado parte essencial da cultura científica do tempo atual, junto com o Cosmos, de Carl Sagan, O teorema do papagaio, de Denis Guedj entre outros.
Para o leitor não familiarizado com a física, especialmente com a física
moderna, esta obra é uma excelente introdução, na qual encontrará uma suscinta
e coerente descrição dos avanços da física no passado até o surgimento dos desafios
do presente.
Para o leitor que já possui certo conhecimento de física,
este livro é um excelente ordenador de conhecimentos, os quais parecem ao
estudante novato distantes e independentes, como a mecânica clássica, o
eletromagnetismo, a mecânica quântica e a teoria da relatividade.
Em especial destaco o valor do texto de Hawking e
Mlodinow aos professores, visto que ele é rico em exemplos e analogias que
facilitam a compreensão, sem falar na incrível didática dos autores que
conseguem fazer mesmo o leitor leigo compreender a essência das questões atuais
de fronteira na física. Os docentes possuem, assim, um rico material para
incluir em suas aulas.
O exemplar inicia pensando sobre o universo e as diferentes teorias sobre o seu surgimento e funcionamento. No primeiro capítulo, comenta-se sobre um modelo em que a Terra seria um disco achatado apoiado sobre as costas da primeira tartaruga de uma pilha sem fim de tartarugas gigantes. Isso teria sido dito por uma velha senhora na plateia de uma palestra do filósofo Bertrand Russel sobre astronomia, o que muitos presentes acharam ridículo. Hawking questiona: “por que deveríamos supor que nosso conhecimento é melhor que o da velha senhora?”
Segundo
os autores, hoje possuímos ferramentas mentais, como o método científico, e
tecnológicas, como computadores e telescópios, que permitem que cientistas façam várias descobertas,
O homem sempre pensou sobre o universo e hoje seguimos
pensando. Algum dia chegaremos a respostas, e estas parecerão aos homens do
futuro tão óbvias ou tão ridículas como uma torre de tartarugas. É com este
espírito de investigação livre, desprendido de ideias pré-concebidas, que os
autores nos convidam a embarcar na leitura através dos capítulos.
Em seguida o livro faz uma viagem cronológica, mostrando
a evolução da representação do universo da antiguidade até o
desenvolvimento do método científico por Galileu entre outros. Logo inicia-se uma discussão sobre a natureza de uma teoria científica. Aqui
aparecem dois tópicos cruciais que valem destaque: o caráter sempre provisório
de qualquer teoria física; e o fato de que uma teoria deve descrever com
exatidão uma grande classe de observações com base em um modelo que contenha
poucos elementos e fazer previsões bem definidas sobre o resultado de observações
futuras.
Einstein não parou na relatividade especial e, em 1915, apresentou sua
teoria da relatividade geral que incluía a gravidade. Ele explicava que o
espaço e o tempo não eram separados, mas sim eram um conjunto
quadri-dimensional chamado espaço-tempo – Einstein introduziu este termo. A
gravidade, nessa concepção, era uma consequência de o espaço-tempo não ser
plano e sim curvo, podendo ser deformado próximo a corpos massivos.
Em seguida os autores discorrem sobre a incrível
descoberta, no início do século XX, de que o universo está em expansão, logo pode ter estado em uma forma muito condensada no princípio, da qual ele teria surgido numa brusca explosão. Assim, chega-se à famosa
teoria do Big Bang! Porém a relatividade geral, que teve sucessivos triunfos na
previsão de vários fenômenos celestes (inclusive a existência de buracos negros,
que também é assunto deste capítulo) falhou, infelizmente, em explicar o
início do universo. Este resultado desafortunado ocorre pois a teoria leva, no
ponto relativo ao início do universo, a uma singularidade, isto é, a um valor
infinito que é difícil e tratar matematicamente (e de fazer sentido fisicamente!).
O próximo tópico fala da mecânica quântica, a outra fascinante
teoria surgida no século XX que se tornou um pilar da ciência moderna. A
mecânica quântica trata do mundo muito pequeno, das partículas, dos átomos e
moléculas. No capítulo anterior, concluiu-se que no início o universo estava todo
condensado em um volume muito pequeno (uns afirmam que o universo primordial
caberia na cabeça de um alfinete), os efeitos quânticos então deveriam ser
levados em conta. Hawking e Mlodinow explicam que uma tentativa de
reunir essas duas teorias foi proposta e ficou conhecida como gravidade
quântica.
Por fim, os últimos dois capítulos falam das múltiplas
possibilidades oferecidas pela física atual para obter o que se chama de a
“teoria de tudo”, isto é, uma teoria completa que consiga explicar todas as
forças fundamentais da natureza (que regem tanto o mundo micro quanto o mundo
macro). As consequências desses modelos propostos, levantam várias discussões
interessantes sobre múltiplas dimensões, buracos de minhoca (túneis conectando
regiões distantes do espaço-tempo e a possibilidade de se viajar dentro deles),
viagens mais rápidas que a luz e viagens no tempo, etc.
Durante todo o decorrer do livro, o leitor será
apresentado a alguns dos mais fascinantes conceitos da física moderna, como o
princípio da incerteza e as partículas portadoras de força. Também lhe serão introduzidas profundas discussões filosóficas a
respeito do papel do ser humano no universo, da existência de vida inteligente
em outro lugar além da Terra e do papel de um Criador.
Muitos dos temas abordados são recorrentes na ficção
científica, mas os fatos apresentados nos filmes, livros e séries são, no
geral, simplesmente aceitos pelo público menos informado, por falta de uma
noção científica básica que lhe permita um senso crítico em relação ao que
assiste e lê. Assim, após ler “Uma nova história do tempo”, seus filmes e
séries de ficção jamais serão os mesmos,
Sem
dúvida, “Uma nova história do tempo” é uma obra altamente recomendada, com uma leitura agradável ao mesmo tempo profunda e muito instrutiva. No mundo moderno em que uma compreensão da ciência é essencial para
compreender os acontecimentos, o papel da divulgação científica séria é
fundamental, porém é necessário saber escolher bem as fontes em quem confiar,
já que diariamente uma enxurrada de informações são disseminadas, muitas
errôneas ou até manipuladas para outros fins.
P.S.: Stephen Hawking é um dos físicos que me serviu de inspiração desde o início da graduação em física, através de seus livros, e que considero alguém com uma das histórias mais fascinantes da modernidade, tanto por sua carreira quanto pela sua trajetória pessoal. Ele partiu em 14/03/2018. Por ocasião de seu falecimento, um fato que me impactou profundamente, escrevi um poema, intitulado “Sobre um gênio” que foi publicado em meu blog “Poesia e Música” e pode ser acessado pelo link: http://andersoneuterpe.blogspot.com/2018/03/sobre-um-genio.html. Confira e deixe seu comentário!
Escrito em: Macapá-AP, 12 de dezembro de 2020.
Publicado em: Macapá-AP, 02 de janeiro de 2021.
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