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Resenha: CHIQUETTO, MARCOS. Breve História da Medida do Tempo.



Livro:              Breve história da medida do tempo.

Autor:              Marcos Chiquetto.

 

Resenha por:    Gerson Anderson de Carvalho Lopes

 

            Com um título que lembra o clássico livro de Stephen Hawking de 1988, neste livro conheceremos não sobre a natureza do tempo, mas de sua medida, e de como o homem sempre se relacionou com esse misterioso aspecto da natureza. Tudo isso é discutido de modo leve, interessante e breve como o título promete.

            O exemplar faz parte de uma série chamada Ponto de Apoio, que cumpre a importante missão de aprofundar “pontos do programa que estão muito condensados, pouco explorados”. Como professor, agrada-me bastante essa inciativa e acredito que deva continuar, pois há diversos pontos que são deixados de lado sem explicação, vistos “por cima”, ou simplesmente assumidos como já entendidos, aos quais não é dada realmente muita atenção.

            Há muitos pontos positivos, o que tornam a leitura atual e muito recomendável mesmo tendo sido escrito há mais de 20 anos. É importante destacar algumas características, como a abordagem transdisciplinar, a adaptação ao contexto brasileiro, a linguagem acessível e a margem que o autor dá ao questionamento e à reflexão em cada tópico, não se limitando simplesmente a passar uma informação, mas estimulando a criticidade.

            Chiquetto escreve de modo conciso e bem humorado sobre como o tempo foi entendido e medido pelo homem desde a pré-história e as antigas civilizações. Ele faz uma viagem histórica mostrando a origem e evolução dos calendários ao longo do tempo, culminando no calendário gregoriano utilizado globalmente na atualidade, discutindo, em seguida, a invenção dos relógios, cronômetros e outras formas de medir o tempo. Longe de se ater simplesmente à medição do tempo do ponto de vista da física e da tecnologia, o autor explora como a medida do tempo mudou características da vida em sociedade, do contato do homem com a natureza e das relações de trabalho.

            O autor compara como o homem do passado vivia sem relógios, “levantava-se porque clareava (ou porque o galo cantava), dormia porque escurecia, [...] sem lamentar a perda de tempo”. Hoje em dia, contudo nossa vida é totalmente comandada pelo relógio, “não comemos quando temos fome e sim quando o relógio nos ordena comer, [...] dormimos quando o relógio nos manda dormir e namoramos quando o relógio permite”. Chiquetto explica também como os antigos estavam mais a par dos movimentos do Sol e da Lua e dos períodos das colheitas do que o homem moderno que pouco olha para a Lua, pois tem o relógio para se orientar. Ele discute ainda como o tempo (de trabalho) se tornou uma mercadoria, fábricas e escritórios passaram a depender dos relógios, e os trabalhadores precisam “bater ponto”, atrasos representam descontos, e “horas-extras” passaram a ser negociadas.

            Outro acerto da obra foi contextualizar o conteúdo para a realidade do Brasil, explicando que alguns conceitos, como as estações do ano, não são percebidos nas regiões Norte e Nordeste do Brasil da mesma maneira que nas Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, em virtude da suas posições geográficas ou ainda sobre como as festividades tradicionais ligadas à certas épocas do ano, como Natal, festa junina e Páscoa, foram importadas do hemisfério Norte para o hemisfério Sul sem considerar a inversão das estações. Essa abordagem transdisciplinar e contextualizada é o que torna a leitura do livro útil não somente para professores de física, mas também de história, geografia, filosofia, sociologia entre outras.

            O autor ainda discorre sobre a invenção de relógios de sol e ampulhetas, a construção de relógios mecânicos e eletrônicos, mesclando uma interessante explicação “técnica” desses equipamentos, resumida porém bastante didática, com explorações históricas de como os avanços técnicos sobre relógios influenciaram acontecimentos cruciais para a humanidade, como as grandes navegações, ou sobre como profissões ora “respeitáveis” como a dos relojoeiros sofreram declínio após a popularização e barateamento dos relógios com o advento da tecnologia digital.

            Outros destaques sobre a didática ficam por conta da linguagem clara e das ilustrações muito presentes e que auxiliam na compreensão. Por fim, considero este livro imprescindível não só para professores, público para o qual ele foi originalmente escrito, mas para todo aquele interessado em entender nossa relação com o passar do tempo e como ele nos afeta.

 

Escrito em: Macapá-AP, 20 de dezembro de 2020. 

Publicado em: Macapá-AP, 08 de janeiro de 2021.


Agradecimentos a Tayanne Sigrid pela revisão ortográfica e gramatical.

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