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Resenha: GIBIN; SOUZA FILHO. Atividades experimentais investigativas em Física e Química: uma abordagem para o Ensino Médio



Livro:                    Atividades experimentais investigativas em Física e Química: uma abordagem para o Ensino Médio
Autores:              Gustavo Bizarria Gibin e Moacir Pereira de Souza Filho.

Resenha por:     Gerson Anderson de Carvalho Lopes

                O livro de Gustavo Gibin e Moacir Filho traz uma importante e significativa contribuição ao professor de Física e Química do Ensino Médio bem como ao licenciando que em breve também irá atuar na docência. Voltado ao docente, o livro traz dez exemplos de atividades experimentais investigativas que ele pode trabalhar em sala de aula, não sem antes fazer uma sucinta, porém não superficial discussão acerca do papel da experimentação no ensino de ciências e as características das atividades investigativas.
                Em seu prefácio, a professora doutora Ana Cláudia Kasseboehmer, que também é autora de obras na linha das atividades investigativas, magistralmente oferece uma resposta sobre a comum pergunta realizada aos professores de ciências: “Professor, por que eu tenho que estudar isso?” A isso ela responde que se espera que a Química e a Física sejam ensinadas e aprendidas para desenvolver o raciocínio lógico e a capacidade de tomar decisões baseadas em fatos e observações e não aceitar o que vem pronto, seja na televisão, nos jornais, ou nos livros didáticos.
                Os autores Gibin e Souza Filho, utilizando um abordagem construtivista, elaboraram o livro no sentido de preencher uma lacuna quanto a materiais para auxiliar o professor a desenvolver atividades experimentais, já que têm que enfrentar os problemas de falta de tempo (as aulas geralmente têm duração de 50 minutos) e espaço (laboratório e equipamentos) nas escolas.
                Os autores criticam as duas abordagens mais clássicas da experimentação no ensino de ciências. A primeira, demonstrativa, semelhante ao que ocorre nas feiras de ciências, ou a que é realizada pelo professor normalmente antes do conteúdo, à frente da turma. A segunda, que ou atures denominam tradicional, é a que ocorre nos laboratórios didáticos, em que os alunos seguem um roteiro proposto pelo professor, coletam e analisam os dados, confrontam os resultados e por fim entregam um relatório escrito.
                Segundo os autores, a primeira abordagem é muito simples, uma vez que o aluno apenas observa o experimento, muitas vezes não conseguindo aprender os conceitos físicos e químicos envolvidos no fenômeno apresentado. Na segunda abordagem, de acordo com os autores, os alunos não expressam ou desenvolvem sua capacidade de planejamento e criatividade, uma vez que apenas seguem um roteiro pré-definido e devem alcançar resultados previamente conhecidos.
                Como alternativa a estas duas abordagens, Gibin e Souza Filho oferecem a abordagem investigativa, onde é oferecido um problema aos alunos e os mesmos devem ser capazes de propor e planejar um experimento, realizar os passos, coletar os dados, discutir com os colegas e apresentar uma resposta, que não é única para a situação problema apresentada. Nessa abordagem, explicam os autores, o aluno é protagonista do seu próprio conhecimento.
           O livro traz também uma importante discussão sobre o papel pedagógico do erro, apresentando-o não como um indicador de fracasso, mas com um caráter construtivo, e relacionado diretamente ao processo de ensino-aprendizagem.
                A seguir passa-se à descrição das atividades experimentais investigativas, cinco delas de física e as demais cinco de química, que os autores afirmam ser estímulos para que os professores possam criar as suas próprias em sala de aula. Todos começam com uma revisão da teoria física ou química envolvida na atividade, junto com uma discussão e contextualização histórica acerca do assunto estudado, passando à formulação do problema que deverá ser resolvido pelos alunos. Há um passo detalhando os materiais de que os alunos disporão em cada atividade bem como questões para orientar o relatório ao fim da prática.
                Trabalho no laboratório de física da UEAP há cinco anos, e antes disso lecionei química no Ensino Médio tendo sido um dos responsáveis pela revitalização do laboratório didático da Escola Estadual Prof. Gabriel de Almeida Café, em Macapá. Além disso, faço parte da organização do Encontro Amapaense de Física há 3 anos, sempre lidando com a parte experimental, e já participei de feiras de ciências em escolas, tanto como expositor como avaliador. Com o auxílio dessa experiência, pude reconhecer o grande valor da obra apresentada aqui, porém resolvi ampliar a discussão em relação aos tipos de atividades experimentais.
                Quanto aos dois primeiros tipos de atividades experimentais apontados por Gibin e Souza Filho, demonstrativo e tradicional (laboratório didático), eu os considero importantes, e os coloco como etapas necessárias até que se possa desenvolver as atividades experimentais investigativas maravilhosamente descritas pelos autores neste livro.
                Sugiro que os experimentos demonstrativos, em geral rápidos, possam ser utilizados pelos professores na introdução de cada tópico de aula, como parte da própria aula teórica, que passará assim a ser teórico-prática. Isso, além de motivar os alunos e prender sua atenção, pode facilitar a compreensão ao trazer o aspecto sensorial e não deixando a compreensão dos fenômenos naturais apenas no campo da abstração.
                Os experimentos tradicionais (com os roteiros de procedimentos) podem ser objeto de uma aula intermediária, para ensinar aos alunos o método científico. Este pode ser inclusive ao fim da mesma aula teórica, a depender do tempo de execução do experimento, para não ocupar tanto espaço no planejamento bimestral do professor.
                Já o experimento com a abordagem investigativa poderia vir como uma das avaliações do bimestre letivo, onde o aluno já estudou os conceitos envolvidos e procedimentos para conduzir um experimento, portanto já está em condições de planejá-lo por sua própria conta e ser capaz de extrair e analisar os dados obtidos.
              Encerro deixando a minha forte recomendação aos licenciandos e professores quanto à leitura deste livro. Certamente os ajudará muito a enriquecer sua prática e melhorar a qualidade das aulas de Física e Química no Ensino Médio, suplantando as dificuldades existentes e contribuindo para a melhoria da Educação no cenário atual brasileiro.

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